Patti Smith é uma poetisa punk. Sabemo-lo não quando ela refere Fernando Pessoa, não quando ela grita palavras de ordem, mas sim quando ela cita Rimbaud e depois cospe para o chão. Isso sim, é punk! E Patti Smith é a madrinha do punk. E não precisa de roupa rasgada, penteados coloridos, ou outros artifícios superficiais.
Com um Coliseu praticamente cheio, Patti Smith (felizmente) não se limitou a percorrer o seu último disco, o (fraquinho) Twelve, álbum quase exclusivamente dedicado a versões (com um bocejante Smells Like Teen Spirits, mas com um vibrante Are You Experienced, com direito a Voodoo Child e tudo). Começou logo com Redondo Beach, tocou Because The Night, People Have Power, voltou para Gloria e, claro, terminou com Rock'n'Roll Nigger. Nessa altura, já as inesperadas cadeiras do Coliseu estavam há muito abandonadas, com o público a amontoar-se em frente ao palco, pulando ao ritmo da cadância de palavras de Patti Smith.
Já não estamos nos anos 70, no tempo da contra-cultura e da guerra do Vietname, mas mesmo assim ainda nos arrepiamos com as palavras de ordem da senhora Smith: this is the only weapon we need, grita apontando para a guitarra e referindo-se ao rock'n'roll. Não há o Vietname, mas há o Iraque e o Afeganistão, há os preços galopantes do petróleo e há a corrupção administrativa das grandes empresas. Talvez por isso somos levados a acreditar naquela activista hippie que passeia pelo palco e pelo meio do público, sem seguranças nem poses ensaidas, como naquele mítico concerto dos Doors.
É, sem dúvida, o concerto do(s últimos) ano(s). E só não foi perfeito porque Patti Smith se esqueceu da letra de Perfect Day, no momento em que a ia dedicar ao público português. Era talvez a isto que se referiam os tais opinion-makers, quando escreviam que a idade não perdoa.
Pedro Soares
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