| AO VIVO | Patti Smith @ Coliseu Recreios, Lisboa

Nestes tempos de blogues, livejournals, myspaces, hifives e outros que tais, em que qualquer um de nós se sente com validade suficiente para emitir opiniões sobre os mais variados temas, diz-se muita coisa pela internet. E uma das coisas que li na net sobre Patti Smith foi que a senhora já estava velha e que os seus concertos já não são o que eram. E eu, pateta como sou, acreditei. Felizmente, que o concerto do passado dia 29 me fez ver com os meus próprios olhos como estava enganado.

Patti Smith é uma poetisa punk. Sabemo-lo não quando ela refere Fernando Pessoa, não quando ela grita palavras de ordem, mas sim quando ela cita Rimbaud e depois cospe para o chão. Isso sim, é punk! E Patti Smith é a madrinha do punk. E não precisa de roupa rasgada, penteados coloridos, ou outros artifícios superficiais.

Com um Coliseu praticamente cheio, Patti Smith (felizmente) não se limitou a percorrer o seu último disco, o (fraquinho) Twelve, álbum quase exclusivamente dedicado a versões (com um bocejante Smells Like Teen Spirits, mas com um vibrante Are You Experienced, com direito a Voodoo Child e tudo). Começou logo com Redondo Beach, tocou Because The Night, People Have Power, voltou para Gloria e, claro, terminou com Rock'n'Roll Nigger. Nessa altura, já as inesperadas cadeiras do Coliseu estavam há muito abandonadas, com o público a amontoar-se em frente ao palco, pulando ao ritmo da cadância de palavras de Patti Smith.

Já não estamos nos anos 70, no tempo da contra-cultura e da guerra do Vietname, mas mesmo assim ainda nos arrepiamos com as palavras de ordem da senhora Smith: this is the only weapon we need, grita apontando para a guitarra e referindo-se ao rock'n'roll. Não há o Vietname, mas há o Iraque e o Afeganistão, há os preços galopantes do petróleo e há a corrupção administrativa das grandes empresas. Talvez por isso somos levados a acreditar naquela activista hippie que passeia pelo palco e pelo meio do público, sem seguranças nem poses ensaidas, como naquele mítico concerto dos Doors.

É, sem dúvida, o concerto do(s últimos) ano(s). E só não foi perfeito porque Patti Smith se esqueceu da letra de Perfect Day, no momento em que a ia dedicar ao público português. Era talvez a isto que se referiam os tais opinion-makers, quando escreviam que a idade não perdoa.



Pedro Soares

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http://www.myspace.com/pattismith

| DISCOS | Numbers: Now You Are This

Numbers: Now You Are Like This
(Kill Rock Stars, 2007)

Nova fase na carreira dos Numbers. O frenético trio de S. Francisco conhecido pelas suas curtas mas contagiantes e energéticas canções de electro-garage-punk-noise parece ter adoptado uma estética musical diferente. Para tràs ficam os espasmos sónicos dos discos anteriores, muitas vezes comparados a outras bandas como Erase Errata ou Deerhof (curiosamente ou não, conterrâneos dos Numbers). Acontece que com Now You Are This a banda revela uma maturidade e mudança de rumo a partir de uma abordagem mais pop, melodiosa e espacial embora, a espaços, a aura sónica ainda se mantenha. Mind Hole, um dos melhores temas do álbum e demonstra bem a doçura dreamy e o minimalismo pop que não raras vezes nos lembram os Young Marble Giants. Na verdade, trata-se de um disco bem mais variado e futurista que os anteriores e mesmo a nível vocal existe uma diferença notória, mais cantada e menos berrada q.b como também convém. Em suma, um registo mais próximo do shoegaze e mais distante do pós-punk e electrónica em convulsões e que vem a mostrar um lado até então desconhecido. Uma boa surpresa e um conjunto de fabulosas canções de uma banda que, aparentemente, se renovou e trocou a velha e suja garagem pela sombra de uma árvore junto ao jardim. Um disco que nos abre o apetite para as novas aventuras dos Numbers.

Rita Andrade

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Mind Hole > http://www.krs5rc.com/krs/bands/numbers/audio/MindHole.mp3
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|.PT | Norberto Lobo

Mais um nome que se destaca no panorama nacional português. Norberto Lobo é um nome a reter e seguramente ouviremos falar mais dele num futuro não muito distante. Abordando a técnica do fingerpicking na sua guitarra, Norberto apresenta a mesma portugalidade do grande mestre Carlos Paredes embora influenciado por outros mestres como John Fahey ou Robbie Basho. Para além de um excelente instrumentista a sua música consegue reter a atenção, a imaginação e a sensibilidade de quem o ouve. Temas que nos levam a uma certa familiaridade e nostalgia, a um sonhar e deixar-nos levar pela sedução e envolvência da sua guitarra, sempre rica em harmonias, cores e formas. Não é fado, não é folk, não é blues, nem tão pouco é bossa mas consegue abordar tudo isto de um modo único, como os grandes músicos conseguem. E sim, sentimos de que de facto este é um "artista português" de corpo e alma que procura renovar a nossa música sem lhe retirar o seu toque tão distinto colocando-o, neste sentido, a par dos Dead Combo ou Lula Pena.
Norberto Lobo prepara-se para lançar o seu disco estreia intitulado Mudar de Bina a sair pela Bor Land e apresenta-se ao vivo já no próximo dia 2 de Novembro no Cabaret Maxime no Bairro Alto.

Nuno Afonso

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http://www.myspace.com/norbertolobo

| TRACKS | Sightings: Through the Panama

Os Sightings têm novo disco. Perforated é o título do mais recente trabalho e mostra que a banda se encontra em excelente forma, mantendo os seus habituais traços noise e industrial mas - e agora mais que nunca - explorando ao máximo a dinâmica guitarra-baixo-bateria em que Andrew W.K dá uma ajuda na produção.
Through the Panama é um exemplo dessa reconstrução sonora dos Sightings ainda mais densa e alienigena.
Ficamos com a sensação de que o futuro do rock poderá estar aqui.
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Pixeltan: Punkotronics

Hisham Akira Bharoocha é imparável. Conhecido por ter fundado os Lightning Bolt, ter passado pelos Black Dice e actualmente a trabalhar no seu projecto a solo enquanto Soft Circle, este é o outro lado de Bharocha; mais electrónico, dançável e acessível. Os Pixeltan assinam actualmente pela editora DFA (conhecida pelos LCD Soundsystem, The Juan McLean e dos Black Dice) e infelizmente são poucas as ocasiões que a banda se apresenta ao vivo. Cruzando todas aquelas influências do "new york noise sound" que engloba o punk-rock até às novas linguagens electrónicas, os Pixeltan distinguem-se talvez pelo facto de tornarem o seu mais denso que a maioria das bandas que explora estes terrenos. A espaços podemos lembrar-nos de outros nomes como Les Georges Leningrad ou Liquid Liquid, ou seja, música de dança bizarra mas incrivelmente viciante e pronta a rebentar. Na discografia contam apenas com dois eps: o homónimo lançado há três anos e um split de sete polegadas com os JOY (também do catálogo DFA). Ao tudo indica em breve sairá novo material da banda lá para o próximo ano. Nós ficamos à espera...
Nuno Afonso
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http://www.myspace.com/pixeltan

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Continuous >
http://www.troublemanunlimited.com/mp3/pixeltan-continuous.mp3

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| TRACKS | Lightning Dust: Listened On

Lightning Dust é o projecto conjunto de Amber Webber e Joshua Wells (ambos dos Black Mountain) que explora a folk de uma forma muito própria criando momentos de fabulosos através da guitarra acústica, piano e vozes. O disco estreia homónimo acaba de sair e lá poderão encontrar Listened On, canção que combina na perfeição o ambiente de mistério a uma melodia e voz apaixonantes.
Para juntar ao lado de Cat Power, White Magic ou Julie Doiron.


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http://www.scjag.com/mp3/jag/listenedon.mp3
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| Sob Escuta | The Octopus Project


Foram uma das bandas sensação na edição do ano passado do conceituado festival de música e artes multimédia de Coachella que anualmente decorre no meio do deserto californiano. Os The Octopus Project acabam de lançar já este ano Hello, Avalanche após o muito bem recebido disco de colaboração com os Black Moth Super Rainbow.
Pegando um pouco nas experiências do pós-rock levado a cabo pelos Tortoise, os The Octopus Project caracterizam-se pela cor da sua pop-electrónica instrumental, por vezes mais sónica, outras mais contemplativa mas sempre melodiosa e francamente contagiante e vibrante. Sintetizadores, drum machine, glockenspiel e até theremin, são alguns dos instrumentos mais invulgares frequentemente utilizados para dar forma a este arco-íris de som que a banda tão bem cria.
One Then Hundred Thousand (belíssimo disco) e Identification Parade são os restantes longa-duração que merecem certamente uma escuta ainda que o mais recente Hello, Avalanche seja o seu trabalho mais acessível e eclético até ao momento - atenção especial ao tema Trucks!

Rita Andrade

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Truck >
Spiracle (feat. Black Moth Super Rainbow) >
I Saw The Bright Shinnies >
http://www.theoctopusproject.com/mp3s/08_I_Saw_The_Bright_Shinies.mp3
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| DISCOS | V/A: After Dark

Vários Artistas: After Dark
(Italians Do It Better, 2007)


After Dark é a compilação limitada de apresentação da nova editora Italians Do It Better, subsidiária da importante Troubleman Unlimited e dá-nos a conhecer alguns dos nomes mais representativos da chamada electro dark wave. À cabeça surgem dois projectos essenciais: Glass Candy e Chromatics. Duas bandas com alguns membros-comuns e que se têm revelado autênticos work in progress, nascendo do pós-punk e caminhando para uma linguagem mais electrónica, kitsh e cinematográfica (especialmente film noir). Uma sonoridade declaradamente nocturna e sensual mas por vezes também misteriosa em que o fantástico In The City dos Chromatics seja talvez o tema mais ilustrativo desse ambiente. Aqui e acolá, chega-se mesmo a pisar os aparentemente sinuosos caminhos do disco (no caso de Miss Broadway, um original do grupo Belle Epoque e aqui revisto pelos Glass Candy) e de um certo misticismo (atravès de Farah, um misto de Lydia Lunch/Laurie Anderson/Anne Clark). Para além destes nomes, figuram ainda o projecto italiano Mirage, Professor Genius e Indeep, num total de catorze temas que ilustram uma película imaginária de uma noite num bar-cabaret em que se ouvia Kraftwerk madrugada dentro com estranhas mas sensuais personagens a dançar no centro.
Charmoso, o som de After Dark poderá ser o exemplo do retro-futurismo da música de dança e certamente uma excelente banda sonora para viajar noite dentro.

Rita Andrade

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http://www.myspace.com/italiansdoitbetterrecords

| TRACKS | Amiina: Rugla

O quarteto de cordas feminino islandês Amiina tem novo álbum. Kurr é o primeiro longa duração após o excelente EP homónimo lançado há dois anos. Neste recente trabalho, as Amiina continuam a fazer-nos sonhar através das suas belíssimas composições, criando uma atmosfera quase mágica. Conhecidas como habituais colaboradoras dos amigos Sigur Rós, é muito provável que este disco faça o seu nome crescer e valer pelo mérito próprio. Rugla é apenas um excelente aperitivo, para ouvir e repetir.


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| Perdidos em Combate | Techno Animal

O que acontece quando o os ritmos do hip-hop se cruzam com as programações estéticas do rock industrial? Um improvável mas fascinante casamento. Os Techno Animal foram pioneiros neste cruzamento sonoro em inícios dos anos 90 quando o álbum estreia Ghosts saíu. Embora na altura o conceito de hip-hop não tivesse a abrangência e ecletismo que hoje tem, o duo composto por Justin Broadrick (dos Godflesh e actualmente, dos Jesu) e Kevin Martin (dos God) deu os primeiros passos ao explorar o género musical de uma outra perspectiva, mais tecnológica e vanguardista, e de certa forma, preparando terreno para nomes como Dalek ou El-P (que mais tarde viriam a participar com a banda). Estranhamente ou não, nunca tiveram a aceitação e reconhecimento pleno pela comunidade do hip-hop, muito menos pelo público do rock industrial, ficando-se um pouco à margem mas a seu tempo a receber a atenção no circuito underground. Existia nos Techno Animal um ambiente bizarro, sujo, dark, cinematográfico até. Batidas fortes e quebradas, baixo bruto e efeitos sonoros estratosféricos entre as rimas de Dalek, Sonic Sum ou Anti-Pop Consortium - iluminárias do hip-hop alternativo. O seu hip-hop mutante obteve logo interesse por gente como DJ Spooky, Alec Empire (dos Atari Teenage Riot) ou ainda dos Tortoise e levou a várias colaborações e participações em compilações. Brotherhood Of The Bomb lançado em 2001 foi o seu último disco e permanece como um dos melhores da sua carreira e mostrando na sua plenitude todo o lado mais abstracto e experimental do hip-hop.
Em 2003 o duo dá por terminada a sua carreira com Justin a formar os Godflesh e actualmente os Jesu; Sub Species é entretanto um projecto relativamente recente de Justin e Kevin que recupera um pouco o trabalho dos Techno Animal mas pouco se sabe sobre este projecto.
Techno Animal, mais uma banda desaparecida ou "perdida em combate" mas que merece ainda ser conhecida.
Nuno Afonso


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http://www.myspace.com/technoanimal


| VIDEO | Julie Doiron: Me And My Friend

Julie Doiron: Me And My Friend from Woke Myself Up, 2007..::..Directed by Jon Claytor

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http://www.scjag.com/mp3/jag/meandmyfriend.mov

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The Hives: em rotação



Não é difícil gostar dos The Hives. Ou melhor, não é difícil querer gostar dos The Hives. É que eles devem ser a banda com mais estilo que apareceu no rock'n'roll desde os Flaming Stars (dizem que os Mojomatics arrecadam este galardão, algo a confirmar no próximo Barreiro Rocks), citam todas as bandas que deviam citar (basta conferir este medley no maravilhoso mundo do youtube) e têm a atitude certa, descontraída e descomprometida, (como quando em plena cerimónia da MTV tiveram a lata de temrinar a explosiva actuação dizendo Sabemos que querem que toquemos mais, mas não nos deixam.), sempre liderados pelo carismático Howlin' Pelle Almqvist, uma espécie de young Mick Jagger. Contudo, musicalmente é que são elas; apesar dos riffs orelhudos, os álbuns dos The Hives regem-se pela máxima ouves uma, ouves todas. Atenção, isto não é um insulto, até porque gente como os Ramones ou os Oblivians fizeram uma carreira à conta disto; o problema é que falta ali mais qualquer coisa.

The Black And White Album é o novo álbum dos The Hives e que anda a rodar ultimamente no meu leitor de cds. E está diferente! A banda deixou-se das bolas de energia, curtas e directas, e procurou uma nova abordagem ao rock'n'roll. O resultado tem momentos bons e maus. Momentos bons como na faixa Well Allright!, linha de baixo viciante e coros la-la-la, ou Hey Little World, riffs certeiros a degladiarem-se com um cowbell. E momentos maus como You Got It All... Wrong, a pisar os terrenos do screamo com refrões melódicos cantados em uníssono, ou It Won't Be Long, com umas guitarras assustadoramente a lembrar os anos 80.

O problema deste novo disco não é os poucos momentos realmente bons. São os momentos maus demais. No entanto, continuará no meu leitor de cds por mais umas semanas. Porque não é fácil não gostar dos The Hives.


Pedro Soares

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http://www.myspace.com/thehives

..::..Youtube..::..
Actuação na MTV
Medley

| Sob Escuta | Dragons Of Zynth

As fabulosas experiências musicais made in NY continuam a surpreender. Os Dragons Of Zynth acabam de lançar o seu disco estreia Coronation Thieves e são talvez uma das bandas-revelação de 2007, pelo menos a julgar pelo disco e pelas reacções que têm vindo a receber. Poderíamos facilmente resumir os Dragons numa só teoria: caos organizado. De facto é disso que se trata. Como se uma infindável jam se tratasse, a banda explora literalmente a musicalidade num cenário aparentemente desorganizado. De referências várias que cruzam o rock mais psicadélico, ao jazz mais livre passando pela criatividade e tribalismo de África. Se preferirem, uns TV On The Radio on acid (aliàs, David Sitek e Kyp Malone dos TVOTR estiveram a cargo da produção do álbum). Contudo, e apesar dos seus complexos e alucinantes jogos de composição, a banda nunca cai no experimentalismo excessivo mostrando acima de tudo que é uma banda rock e das boas. Por tudo isto e muito mais, Coronation Thieves é um álbum a descobrir urgentemente e pronto a ser consumido nos próximos tempos.
Sons espaciais e vanguardistas vindos do planeta Zynth, algures numa galáxia perto de si.
Rita Andrade
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| TRACKS | Kid 606: Fabulous Muscles (Xiu Xiu)

Remixed and Covered saiu há já alguns meses e reúne, como o título indica, interpretações e remisturas dos norte-americanos Xiu Xiu. Entre os particpiantes contam-se Why? (dos cLOUDDEAD), Marisa Nadler, Oxbow, Larsen ou ainda Kid 606, num total de dezoito temas organizados em formato disco duplo, um de remisturas e outro de covers.
Fabulous Muscles um dos muitos clássicos dos Xiu Xiu é aqui revisto por Kid 606 num registo delicado em que os esparsos dedilhares da guitarra acústica mergulham num ambiente dançável mas ainda quente e claustrofóbico como o original.
Vénia justa a uma das bandas mais orginais e criativas da actualidade.


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http://www.krs5rc.com/krs/bands/xiuxiu/audio/FabulousMuscles.mp3

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| AO VIVO | Mazgani na Capricho Setubalense

Normalmente, quando se fazem comparações elogiosas a artistas nacionais, devemos sempre ter em consideração uma ligeira margem de manobra. Por exemplo, se compararmos um realizador português ao Michael Mann, na verdade estamos a compará-lo ao Tony Scott.
Mas nem sempre é assim; felizmente, existem as excepções que confirmam a regra e é por isso que vos estou a alertar para as comparações que se seguem nas linhas seguintes, que devem ser tidas em conta. Por exemplo, quando comparar Mazgani a Leonard Cohen, é mesmo em Cohen que devem pensar. Aliás, se Leonard Cohen tivesse tido o azar de nascer umas décadas depois, ele é que seria comparado a Mazgani.

Sharyar Mazgani, metade português-metade iraniano, é o mais estimulante compositor/escritor de canções que o nosso país viu desde o JP Simões. E os Mazgani (a banda, que adopta o apelido do seu vocalista/guitarrista) deram-se a conhecer ao mundo em 2005, quando a Les Inrocks os considerou uma das 20 bandas mais promissoras do ano. O disco de estreia, intitulado Song Of The New Heart, chega-nos agora, dois anos depois, e foi apresnetado no sábado passado a amigos, familiares e simples curiosos na tal cidade onde (quase sempre) não se passa nada - Setúbal.

Chegamos então à parte das comparações; Mazgani soa a muitas e boas coisas. Faz lembrar o vozeirão de Leonard Cohen, mas com melhor dicção; faz lembrar os territórios pop-sónicos dos Radiohead; tem os momentos mais delicados de PJ Harvey; e tem a mesma alma passivo-agressiva de Nick Cave. Penso que Mazgani não levará a mal as comparações; até porque foi dele que ouvi a mais fantástica versão de Desperate Kingdom Of Love.

Como não conheço ainda o nome das músicas (caro Sharyar, se me estás a ler não hesites em oferecer um disco à Mescla Sonora para futuras considerações), não esperem um registo detalhado do alinhamento do concerto. Digo-vos apenas que a banda demonstra uma maturidade invejável, que não descansa à sombra da bananeira (leia-se à sombra dos elogios da Les Inrocks), uma vez que Unageing Games foi logo o segundo tema da noite (afinal sei o título de uma das músicas); que domina por completo o formato canção e que tem uma espécie de livre-trânsito no universo da perscrutação da alma dos ouvintes.

Ainda não escutei Song Of The New Heart, mas para mim é já um dos discos do ano.


Pedro Soares

Fotos: Sandra Conrado

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| DISCOS | Black Lips - Good Bad Not Evil


Black Lips: Good Bad Not Evil
(Vice, 2007)



Desde que os Strokes lançaram Is This It que se diz que o rock anda na moda. De facto, desde os anos 70 que não se falava tanto de rock'n'roll. Mas agora pergunto eu: desde que apareceram os Strokes, quantas bandas rock conseguimos distinguir de todas as outras? Assim de repente, penso que as respostas contam-se pelos dedos das mãos. Todas se vestem de igual, todas soam igual... E sim, os Arctic Monkeys também.
Por isso, ainda bem que existem os Black Lips, quatro miúdos norte-americanos que tocam rock'n'roll como antigamente. Os Black Lips não se vestem consoante a moda, não citam as bandas que deviam citar (aliás, todos eles são fãs de hip-hop; os dentes de ouro não são por acaso), nem tão-pouco aparecem nos sítios que deviam aparecer... Com eles, o rock ainda tem tudo a ver com ser livre e festivo (por isso, não há concerto que não termine em lago parecido com um motim); e com eles, o tríptico sexo, drogas e rock'n'roll (com ênfase na segunda e terceira parte da equação) continua a fazer sentido.

Ao terceiro disco de originais, os Black Lips abandonaram o lo-fi. Perdeu-se a visceridade, ganhou-se em musicalidade. Bad Good Not Evil é um tratado protátil de psicadelismo punk garageiro urgente e doentio, com a mesma proporção de irresponsabilidade e desleixo que a ingenuidade da idade comporta. Por isso, urge ouvir estes gaiatos antes que eles cresçam, ganhem maturidade e partam para outra.

Por isso, enquanto não chega o dia 10 de Novembro, o dia em que eles voltam ao nosso país para tocar no Barreiro Rocks, vamo-nos deleitando com Bad Good Not Evil, rock'n'roll à bruta, para ouvir e jogar-nos contra a parede.

Pedro Soares

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ao vivo no Conan O'Brien

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«Cold Hands»

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| TRACKS | Ellen Allien: Just a Woman

O excelente Orchestra Of Bubbles de 2006, deu a conhecer a um público mais vasto o trabalho da alemã Ellen Allien e do seu parceiro Apparat.

Este ano Ellen apresenta um novo trabalho chamado Fabric 34 que funciona como uma mixtape em que a própria mistura analógicamente temas de gente como Ben Klock, Apparat ou Thom Yorke. Just a Woman é o único tema de autoria própria presente no disco e mostra uma poderosa malha de programações e batidas soturnas. Para amantes da música de dança mais sofisticada.


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| DISCOS | Magik Markers: Boss

Magik Markers: Boss
(Ecstatic Peace, 2007)

Conhecidos como verdadeiros terroristas sónicos, muitos foram os tumultos que criaram em palco e não só. Já com cinco anos recheados de discos e cdr´s e do apadrinhamento dos Sonic Youth, I Trust My Guitar, etc foi o disco que colocou definitivamente os Magik Markers na primeira linha do noise-rock e na entrada para a editora de Thurston Moore, a Ecstatic Peace. Recentemente passaram de trio e duo, com a saída da baixista Leah Quimby, e coincidência ou não, a banda mudou em termos sonoros. De facto, a primeira impressão que ficamos ao escutar o novo disco Boss é questionar se estes serão os mesmo Magik Markers que outrora conhecemos. Onde antes existia improvisação desenfreada e descargas brutais e viscerais, agora existem canções tocadas a partir de guitarra acústica e piano e em que Elisa Ambrogio (espante-se!) canta. A espaços, lembramo-nos de Patti Smith e das suas baladas negras de Radio Ethiopia. No entanto, esta aparente mudança da banda não se nota apenas no som mas também nas letras das próprias canções. Taste é muito provavelmente o tema-chave de Boss mas atenção especial também a Body Rot (que poderia ser muita bem uma canção dos Sonic Youth) e Bad Dream/Hartford's Beat Suite, numa incursão algo country/folk com algum feedback à mistura pois os Magik Markers podem ter mudado mas ainda são - à sua maneira - uma banda rock ruídosa.
Boss é assim uma das grandes surpresas deste ano revelando-se um disco absolutamente fabuloso e intenso em que conhecemos "o outro lado" da banda. Não deixa de ser irónico que através de uma sonoridade mais calma, acessível e "madura", os Magik Markers apresentem o seu trabalho mais punk (em termos de atitude) e contra-todas-as-expectativas-possíveis. Um grande álbum.


Nuno Afonso

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www.myspace.com/theemagikmarquers

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Taste >
http://www.pitchforkmedia.com/article/download/44736-magik-markers-taste-mp3stream

Icy Demons: Caldeirão de sons

Os Icy Demons são um duo de Chicago que junta o produtor Griffin Rodriguez e Chris Power (dos Man Man e Need New Body) num quadro sonoro surrealista composto por piceladas várias que mergulham no jazz e na electrónica passando pelos ritmos de África e pelos ensinamentos de Frank Zappa e de Robert Wyatt. A partir de uma rica variedade de instrumentos utilizados, que engloba vibrafones, melódicas, saxofones e vários tipos de percussão, a banda consegue criar fabulosos temas possuídores de uma beleza e criatividade embriagantes embora expostas de uma forma discreta tal como os grandes canções costumam ser. Para além do núcleo duro composto por Griffin e Chris, este projecto conta frequentemente com a participação de outros músicos amigos e convidados para apresentações ao vivo e gravaçóes, completando assim o magnífico ramalhete. Na sua discografia contam-se o estreia Fight Back!, Tears Of Clone (edição exclusiva japonesa e talvez o seu melhor trabalho até à data) e o novo Miami Ice lançado já este ano.
Fazendo parte de uma nova vaga de música livre de onde os podemos pôr lado a lado com outros nomes como Lucky Dragons, Dirty Projectors ou Animal Collective, esta é uma sugestão que aqui deixamos e que francamente merece ser escutada e apreciada.
Nuno Afonso

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http://www.myspace.com/icydemons

..::..Download..::..
Icy Demons >
http://www.cloudrecordings.com/media/icydemons_icydemons.mp3
Desert Toll >
http://www.cloudrecordings.com/media/icydemons_deserttoll.mp3

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| TRACKS | Dntel: Dumb Luck

Dumb Luck é o título do último disco de Jimmy Tamborello aka Dntel, um dos nomes mais referenciados na electro-pop nos últimos tempos. Como habitual, convidou alguns amigos e assim podemos aqui encontrar as vozes dos Lali Puna, Fog ou Grizzly Bear entre outros.
O tema-título que damos aqui a conhecer mostra na plenitude o universo de Dntel: melodias calorosas, leves batidas engenhosas e um ambiente envolvente. Dreamy electro-pop da melhor colheita.

..::..Download..::..
http://mp3.insound.com/download.php?mp3id=3097

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DJ/Rupture: Nu-beats

É actualmente considerado um dos DJ´s/produtores mais irreverentes e versáteis do circuito musical ligado às novas tendências de breakcore, turntablism e electrónica mais aventureira mas o seu estilo é muito próprio. Jace Clayton aka DJ/Rupture começou a ganhar maior visibilidade quando em 2002 lança a mix Minesweeper Suite que continua o trabalho da anterior mix Gold Teeth Thief em criar uma linguagem musical que interliga o hip-hop, ragga, jungle, noise ou jazz mais abstracto. Rupture é por estas e outras razões um artista visionário que rejeita limites e abraça desafios residindo aí a sua essência. Tendo já actuado com outros "companheiros de guerra" como Dizzy Rascal, Kid 606 e até Nora Jones, as suas apresentações são sempre fascinantes pelo factor surpresa e pelo ambiente festivo-caótico que concebe. Para além disso, é dono da Soot Records e ainda comanda o programa radiofónico da WMFU (uma das rádios independentes mais influentes nos EUA) onde para além de apresentar sets exclusivos também convida outros artistas. Por último ainda toca no projecto Nettle e várias performances com o guitarrista Andy Moor dos The Ex.
Criativo, hiper-activo e altamente eclético, DJ/Rupture é certamente uma das novas faces da música urbana mais aventureira e estimulante.
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..::..Download..::..
Gold Teeth Thief Mix [43 tracks, 68 minutes, mixed live on 3 turntables] >
http://www.negrophonic.com/goldteeththief.htm

| Sob Escuta | Telepathe


Há já algum tempo que andamos para falar nestas miúdas que nos andam a fascinar desde o lançamento do seu EP Farewell Forest lançado o ano passado. Busy Ganges e Melissa Lavaudais (e ainda ocasionalmente Ryan Lucero and Eric Emm) são um jovem duo feminino que desde finais de 2004 tem vindo a desenvolver um fantástico processo de criação musical em constante mutação que atravessa o tribalismo psicadélico e experimental dos conterrâneos Excepter e Gang Gang Dance até aos ritmos grime e electro dos Spank Rock e Diplo. Um fascinante melting pot sonoro em puro work in progress portanto. Já este ano lançaram o segundo EP, Sinister Militia onde para além do excelente tema-título (provavelmente a melhor canção da banda) figura também Islands e ainda duas remisturas assinadas por TMJ!!! e Soft Pink Truth. Ainda este ano preparam o primeiro longa duração Rare Book Room que mais uma vez deverá apontar para outras sonoridades embora com o mesmo místicismo e doçura dos trabalhos anteriores como prova o novíssimo tema I Can´t Stand It disponível para escuta no Myspace da banda.

..::..Myspace..::..
http://www.myspace.com/telepathy

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The March > http://www.thesocialregistry.com/_mp3/mp3/telepathe/telepathe_the_march.mp3

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| TRACKS | The Sea and Cake: Coconut

Os The Sea and Cake estão de regresso este ano com o novo álbum Everybody lançado recentemente pela Thrill Jockey. Bossa-pop-jazz com algum experimentalismo leve é já a sonoridade de marca da banda de Chicago. Coconut é o single de apresentação, e um óptimo aperitivo ao restante disco. De lembrar que muito em breve a banda estará cá ao vivo a apresentar este seu último trabalho.



..::..Download..::..
http://www.thrilljockey.com/assets/freedownload/The_Sea_and_Cake-Coconut.mp3

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Burning Star Core: Poeira Cósmica

Se o clássico de Julio Verne Uma viagem ao centro da Terra tivesse uma banda sonora então certamente seria Burning Star Core. C. Spencer Yeh é o vulto deste projecto, autêntico escultor sonoro, perito em elevar a mente humana a um nível acima da realidade. Violinista da escola clássica, Yeh tem colaborado nos últimos anos com notáveis figuras como Thurston Moore (Sonic Youth), Deerhoof, Comets On Fire ou Sunburned Hand Of The Man entre muitos outros e a pouco e pouco tem criado o seu próprio trabalho contando com uma série de CDR´s, k7´s e álbuns lançados de onde talvez se destaque The Very Heart Of The World. O que mais fascina em Burning Star Core é a forma única como apresenta a sua música que partindo de uma abordagem assente na improvisação e na experimentação cria uma sonoridade noise muito particular. Evasiva, espacial, hipnótica e burbulhante, com uma força magnética incrível e em constante espiral. A partir da colagem sonora, Yeh compõe fantásticos padrões rítmicos e pulsações harmónicas num esquema próximo ao conhecido jogo do cadáver-esquisito tornado popular pelo movimento surrealista. Puro mind melting diriam alguns.

..::..Download..::..
The Universe Is Designed To Break Your Heart >
http://freedownloads.last.fm/download/91622156/the%2Buniverse%2Bis%2Bdesigned%2Bto%2Bbreak%2Byour%2Bheart.mp3

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| VIDEO | His Name Is Alive: Come To Me

His Name Is Alive: Come To Me from Xmmer 2007 ..::..Directed by Stephen Brandt


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